A maioria dos velejadores modernos estão se preocupando muito mais em aprender como lidar com equipamentos eletrônicos (GPS, Chartplotter, Radar) e meteorologia, por exemplo, do que aprender questões diretamente ligadas à segurança e se preocupar com elas, ou seja, aprender técnicas de tempestade, como fazer um leme de emergência ou uma mastreação de fortuna e assim por diante.
O exemplo dado na mesma reportagem é de que a cada ano mais barcos tem sido abandonado em alto-mar por causa de problemas que, aparentemente, teriam sim uma solução. Mas porque alguém abandonaria uma embarcação em alto-mar se ela ainda está flutuando? As principais causas que justificariam uma atitude como esta são: doença ou acidente grave a bordo - no caso de um velejador solitário - e perda da quilha – porque dificilmente se consegue dar direção ao barco sem ela e dificilmente se consegue improvisar um sistema que a substitui. Por isso que as quilhas tipo patilhão ao “full kell”, que geralmente são integradas à estrutura do casco, são mais seguras do que as quilhas que são presas ao casco por parafusos.
Mas se a embarcação ainda está flutuando porque a tripulação pediria ajuda ou resgate? Os motivos estão restritos basicamente a duas situações: ou o barco perdeu o mastro ou perdeu o leme. Nos outros casos, aparentemente, não há motivo para abandonar o barco, mas isso tem acontecido.
Sair de uma situação como esta depende principalmente da determinação da tripulação e de muita calma. É claro que numa situação de perda de mastro ou leme, dificilmente você conseguira chegar ao ponto desejado, mas chegar em terra firme é possível.
No entanto, o que tem acontecido hoje em dia é encontrar tripulações que estão totalmente despreparadas para enfrentar tal situação. É claro que, na maioria das vezes, ninguém procura se imaginar nessa situação e, assim, planejar o que seria feito numa situação como esta. Pior ainda seria ter que abandonar o navio por falta de um equipamento ou peça que pudesse evitar o abandono, ou seja, na falta de um serrote a bordo, com o que você conseguiria cortar uma peça de madeira para fazer um leme de emergência.
É claro que é muito difícil adquirir experiência em situações de emergências como estas, afinal, ninguém em sã consciência irá quebrar o leme da sua embarcação para simular uma situação de perigo, mas a solução para isto está no planejamento, ou seja, em ter as ferramentas e materiais adequados para consertar a avaria e, principalmente, procurar mentalizar como você enfrentaria e reagiria numa situação como esta.
Este exercício de tentar prever o pior foi uma das minhas principais táticas para enfrentar a viagem da volta ao mundo em solitário pelo oceano austral. Por diversas vezes, a noite, deitado na minha cama em casa, procurava mentalizar eu sozinho a bordo em uma tempestade, com ondas grandes e ainda com alguma avaria. Um situação totalmente inusitada, que a gente só lê em livros, mas nunca imagina que irá acontecer com a gente é a colisão com uma baleia, um tronco de árvore ou um container. Eu já havia lido relatos de acidentes como este e, portanto, procurei me abastecer de materiais necessários a um reparo desse nível, mas passar por uma colisão com uma baleia foi realmente assustador (ver livro Diário de Bordo, página 158).
Hoje em dia, diante do aumento de casos de colisões de embarcações com OFNIs (objetos flutuantes não identificados) seria prudente, para um navegador de longo curso, pensar bem que tipo de quilha e leme possui sua embarcação, pois está ai uma das principais diferenças de um barco de cruzeiro de verdade e, é claro, planejar bem, além de adquirir experiência.