Ensino doméstico a bordo de um barco.

Já conhecem a história de Heloísa Schürmann? A professora e proprietária de uma escola de inglês que circunavegou o mundo num veleiro com a família, educando os 3 filhos no barco? Há pouco tempo fez uma entrevista, deixo aqui um trecho.

Heloísa Schürmann: “A disciplina foi o fator fundamental para que desse certo. Eles tinham um horário para as aulas, para o lazer e para fazer deveres. Eles tinham aulas todos dias, podia ser de manhã ou a tarde. O que ajudou muito para o aprendizado deles foi o fato de que, desde cedo, as crianças gostavam de ler. Fazíamos muita pesquisa de campo, trabalhos em bibliotecas e contamos com ajuda de velejadores que nos ajudavam nas matérias que tínhamos dificuldades. As crianças se tornaram autodidatas, pesquisaram e aprenderam diversos assuntos que eles tinham interesse e não estavam em nenhum currículo escolar”.

O que dizem os filhos?

Wilhelm Schurmann (agora com 33 anos): “Eu passei 10 anos no mar e minha mãe foi minha professora. No início, eu tinha 7 anos, foi bem difícil, pois eu queria ir nadar, brincar na praia e com um dia bonito eu tinha que ficar no barco estudando. Mas aos poucos fui vendo que todos meus amigos também tinham que estudar nos seus veleiros e, então, combinámos todos de ter aulas de manhã e sair à tarde. Aprendi que se eu adiantasse meus deveres, os que eu podia fazer sozinho, as redações, geografia, história, ciências, e alguns de matemática, me sobrava mais tempo para fazer windsurf. Eu aproveitava os dias de chuva, ou quando estávamos navegando, para adiantá-los. Funcionava bem. Eu estudei o segundo grau pela escola de correspondência da Nova Zelandia e me formei em Desenho Técnico. Às vezes, eu ficava várias noites tentando resolver um problema. Fazia desenho, fazia a miniatura e resolvia a questão. Pra mim, estudar a bordo foi melhor do que ir na escola, pois eu aprendi muito mais do que se eu estivesse na escola.

Pierre Scchurmann (agora com 41 anos): “Eu tinha 15 anos quando a viagem começou e naveguei com a família por três anos. Aos 18, fui para os Estados Unidos para ingressar numa universidade, onde cursei administração de empresas. A vida no barco, viajando, me trouxe duas experiências distintas. Uma delas foi o contato com as diferentes culturas de outros povos e a importância de se relacionar com eles para sobreviver. A outra foi a do relacionamento interno, dentro do próprio barco, com a família.

David Schurmann (agora com 35 anos): "Eu tinha 10 anos quando comecei a viajar com minha família e aos 16 anos fiquei na Nova Zelândia, onde estudei Cinema e Televisão, na Universidade de Auckland. Aprendi cedo a não tentar entender a cultura com meus olhos, porque do meu binóculo eu vou achar tudo sempre estranho. Quando você viaja e fica um bom tempo em cada lugar, começa a compreender por que as pessoas são de um jeito e pensam de uma maneira.

O grande problema da humanidade é que as pessoas querem impor as suas maneiras de viver e dizem que o resto está errado.

O preconceito acaba quando você compreende o outro. Eu mudei a minha visão do mundo. As pessoas gostam de ver a vida como um túnel. Gostam de estar num trilho de trem que tem um caminho certo, porque acham que é mais fácil e seguro, não querem enxergar outras paisagens. Enquanto eu acho que o mais belo na vida é exatamente deixar meu barco ser guiado pela correnteza, pelo coração”.